terça-feira, 15 de junho de 2010

Acerca da anatomia do pensamento ou do que é estar feliz.

O pensamento está intimamente ligado ao estado emocional e sentimental do indivíduo.

Quando os mapas neurológicos que caracterizam um determinado estado mental proporcionam uma vivencia agradável e aprazível, as imagens que o pensamento ilustra, porque de imagem se tratam (já repararam neste interessante pormenor? O pensamento são imagens que se criam na mente fruto de estímulos cerebrais) são ricas, variadas, imaginativas e resolutivas nas mais variadas facetas que caracterizam uma agilidade mental proporcionada por um estado de espírito positivo.

Quando por outro lado, o nosso estado metal é mais doloroso e menos aprazível, o pensamento degenera em algo que se vira contra nós mesmos, tende a sugerir imagens repetitivas que de forma lenta e monocórdica se vão arrastando na mesma medida que a vida se vai diminuindo e apagando.

Independentemente das técnicas adoptadas por cada indivíduo que a elas se socorre para assim activar a sua vontade de viver, sejam elas baseadas na filosofia, na psicologia, na crença, na religião, em dogmas, nas drogas ou na medicina, na política, na pátria, ou no clube do seu coração, pressupõem desde logo um estado mental doente, no sentido de se encontrar em contra-mão com a vida.

Assim, a felicidade, ou seja, um estado mental sadio, é impossível de ser experimentada enquanto o indivíduo encara a vida como algo que contra ele conspira, enquanto observa essa mesma vida como aquilo que durante séculos intermináveis foi sugerido, imposto ou educado, com sendo um local de castigo, de provas e de expiações e que nada mais lhe resta do que a suportar da melhor forma possível, arrastando o seu desprezado e valioso corpo humano até à morte inglória, na esperança que essa atitude mórbida e inútil possa ser a chave para ser feliz num além que parece ser , ou que se ouve dizer, o lugar da descanso e da paz para aqueles que acusam a vida substantivando-a de algoz.

Assim, mais importante do que saber se o pensamento cria ou não formas vivas adoptando uma perspectiva de quem já se treina para estar morto, quando paradoxalmente esse mesmo pensamento não é de forma alguma uma causa mas sim a consequência da representação do corpo no cérebro que por sua vez se constitui como quadro de referencia indispensável para o desencadear dos processos neurais que designamos como mente.

O nosso próprio organismo é utilizado como referência para a interpretação do mundo que por sua vez identifica o carácter de uma personalidade que é a identidade responsável pela subjectividade do mundo mental que criamos. Os nossos pensamentos partem do nosso próprio corpo e consoante aquilo que esse mesmo corpo, ou seja consoante aquilo que a própria vida significa para cada um, assim serão determinadas as imagens que se criam no acto do pensamento, imagens de alegria e de felicidade ou de tristeza e mágoa, imagens lúcidas e rápidas ou baças escuras e lentas, imagens que resolvem a vida ou imagem que a tentam assassinar.