segunda-feira, 10 de maio de 2010

A Morte

E o fim da tarde a passear pela rua e a noite será companheira e o ruído da cidade e a última luz na viela ilumina o percurso até à praia e o som do mar não me dá paz e os sentidos no meu corpo e ecoam no ar as brumas do mar e alcanço as águas frias de Dezembro e provo o sabor da espuma pouco alva e este quadro é uma face que exprime dor e caminho lentamente e sinto cada passo e ao longe as luzes dos barcos e galgam as ondas fortes e lançam lembranças e ouvem-se novos temas de conversa que já não me interessam e falam de livros estranhos e sentidos nojentos de um verso poético e leve e terna ideia de amor que agora vos conto e amor é uma forma de viver e que ridículo sou por ter falado de amor.E então que se passa contigo? Olha-me nos olhos se tens coragem! e não tenho e sentir o teu corpo nesta praia escura e passar as mãos no teu longo cabelo liso e sentir o perfume das tuas roupas e tocar os teus lábios e correr de mãos dadas e rebolar na areia e sentir o peito a explodir de ternura e mantenho-me de costas e silêncio e mais nada e silêncio e nada mais e de novo a areia perigosa Olha uma moedinha, por favor! e a ira cega a mente e turva o olhar e a alta ponte sorri-me e passo a passo e tempo a tempo e tempo a tempo e passo a passo e passo a passo e tempo a tempo e tempo a tempo e passo a e já saltei mas se pudesse voltar atrás não o teria feito e a turbulência das correntes envolvem a dor dilacerante do esventrar do meu corpo e contra as margens de pedra e as águas do rio entram na barra em conflito com o sal do mar e o sargaço oleoso e mal cheiroso é manchado pelo meu sangue que já escorre e Porque será que tarda tanto? e pela primeira vez ocorre-me a ideia de Deus e estou a tentar rezar mas não sei as palavras e a dor é horrível e sinto-a em pormenor e cada célula do meu corpo e cada instante é um tempo e estas areias da praia que ainda há pouco pisei recebem-me cínicas e os gritos dos que correm incomodam o azul que transporta quem me socorre e sinto-me envolto por um pano branco e à minha volta está o olhar de figuras que conheço e um grupo observa o meu corpo que cai preso por cordas num grande buraco e os soluços dos que me choram são abafados pelo escárnio e os gritos de escuras e baças figuras que em meu redor passeiam.Uma sensação estranha começa a incomodar e de inicio sob a forma de pequeno formigueiro e que foi aumentando na dor da consciência do meu corpo a ser devorado pelos pequenos seres da terra fria e o grupo dos que me olham de forma fixa vai aumentando na medida que sinto remorsos e nem uma palavra de consolo e nem uma voz amiga e nem um pequeno gesto de dó ou paixão e só os gritos insuportáveis dos que me rodeiam e aqueles olhares frios e acusadores que me seguem e além disso o tormento do meu corpo mutilado que lentamente é devorado e passam as horas e os dias e os anos e sempre as mesmas sensações e sempre o reviver de todos os momentos após o meu salto para as águas e por muitas décadas e cada vez mais intenso.Um último esforço e a alegria chega provocada por um choro. A felicidade intensa apaga por completo as ultimas experiencias da dor. O calor do meu pequeno corpo deitado frágil sobre o ventre da minha mãe, que derrama a ternura que me envolve e mais tarde vai acompanhar a minha frágil infância da vida e as preocupações das doenças que vêm e o carinho quando me sinto aflito... sim isto é amor.

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